Proclamação do Pontífice Vermelho do Clímax
da Nação
O homem foi concebido pela mente de Deus, dizem. E a família
foi concebida pela mente do homem. Danae, enquanto dorme, tão arredondada,
tão fortemente aberta, acolhe na árvore da vida o raio dourado
de Júpiter. É não é preciso um guarda-chuva
para para proteger-se daquela chuva. Também não é
preciso correr. Apenas ficar parado. Parado como Danae. Porque é
uma chuva que molha apenas por dentro, aquela. Penetra direto, até
a borda e deixa o resto cair, líquido e sem valor.
Assim, nascem as famílias. E com a mesma técnica
nascem as sociedades. Uma vez, há muito tempo atrás, muito
antes do nascimento de Deus, antes ainda do nascimento das civilizações
rurais e industriais, quanto o homem ainda grunhia e não sabia que
era uma pessoa (porque não havia maneira de fazê-lo saber),
naquele tempo, enfim, que corresponde mais ou menos ao tempo do Éden,
o homem andava a esmo sem uma meta fixa, comia o que tinha vontade, e passava
o resto do tempo coçando os piolhos. Nos dias do amor (pelo décimo
quarto dia da fase lunar) o homem, sem saber nada sobre hormônios,
disperso pelos campos e montanhas, trepava com tudo o que encontrava no
raio de um quilômetro. Ovelhas e cavalos. Homens e mulheres, Mulheres
e crianças. O homem não sabia que pecava, e se regojizava
sem remorsos. Foram precisos centenas de milhares de anos para fazê-lo
entender a diferença. Foi preciso inventar todo tipo de coisas,
inclusive a cultura. E hoje o resultado está debaixo de nossos olhos,
com todos os problemas que a negação das origens acarreta.
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Lenara Verle |