NÃO-CAPÍTULO SEGUNDO

Proclamação do Pontífice Vermelho do Clímax da Nação




Caros amigos, Caros irmãos. Patrícios e estrangeiros. Não sei se Paris vale uma missa. Não sei "o que o homem é mais que a besta, se ele não faz melhor uso de seu tempo que comer e dormir". No fundo: o que o homem é mais que a besta? Não sei.

O homem foi concebido pela mente de Deus, dizem. E a família foi concebida pela mente do homem. Danae, enquanto dorme, tão arredondada, tão fortemente aberta, acolhe na árvore da vida o raio dourado de Júpiter. É não é preciso um guarda-chuva para para proteger-se daquela chuva. Também não é preciso correr. Apenas ficar parado. Parado como Danae. Porque é uma chuva que molha apenas por dentro, aquela. Penetra direto, até a borda e deixa o resto cair, líquido e sem valor.

Assim, nascem as famílias. E com a mesma técnica nascem as sociedades. Uma vez, há muito tempo atrás, muito antes do nascimento de Deus, antes ainda do nascimento das civilizações rurais e industriais, quanto o homem ainda grunhia e não sabia que era uma pessoa (porque não havia maneira de fazê-lo saber), naquele tempo, enfim, que corresponde mais ou menos ao tempo do Éden, o homem andava a esmo sem uma meta fixa, comia o que tinha vontade, e passava o resto do tempo coçando os piolhos. Nos dias do amor (pelo décimo quarto dia da fase lunar) o homem, sem saber nada sobre hormônios, disperso pelos campos e montanhas, trepava com tudo o que encontrava no raio de um quilômetro. Ovelhas e cavalos. Homens e mulheres, Mulheres e crianças. O homem não sabia que pecava, e se regojizava sem remorsos. Foram precisos centenas de milhares de anos para fazê-lo entender a diferença. Foi preciso inventar todo tipo de coisas, inclusive a cultura. E hoje o resultado está debaixo de nossos olhos, com todos os problemas que a negação das origens acarreta.



Lenara Verle













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