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O CHINÊS
O chinês é o cúmplice mais velho. Ele não fala chinês porque aos sete anos foi raptado por um par de Burmeses (pai e filho) que precisavam de alguém para trabalhar a terra. Porque o chinês é assim: depois de um ano, ele não se lembra mais do que fazia, do que sabia antes. Aos oito anos não se lembrava mais de ter sido uma criança. E achava que era um adulto que não cresceu. Porque os adultos crescem até um certo ponto, e quando acham que cresceram demais, começam a envelhecer. Assim, por causa dessa arrogância, pagam o preço da morte. Porém, o chinês conhecia muito poucos velhos.
Nos campos de Rangoon, nas savanas da Sumatra e Malásia, na selva de Sarawak, se pode morrer de tudo, até de tédio. Às vezes se pode morrer de saudades. Mas de velhice nunca. Os velhos de Nantuna (famosos só pelo fato de serem velhos) que o ensinaram a pescar (profissão que o chinês esqueceu no ano seguinte), sempre morriam de alguma coisa. Alguns do coração, alguns de hemorragia cerebral, alguns de insuficiência renal. Davam seu último suspiro e sufocavam. Três ou quatro vezes, com os olhos arregalados e babando. E deu. Mas de velhice, pra dizer: "Ele morreu de velhice", ninguém.
 
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Lenara Verle